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domingo, 24 de julho de 2011

"Os bons morrem cedo" (Renato Russo)

A morte de Amy Winehouse é um produto mórbido de nossa época, e dessa sociedade “capetalista”, uma vez que se pensa como um produto a imagem de uma moça tão talentosa, mas com uma carreira vivida com tantos dramas pessoais. Se comercializa essa imagem como uma mercadoria, um bem de consumo. A agonia de Amy foi exibida ao longo de anos, em rede mundial e em tempo real, com todos os requintes de um freak show, esse lixo que as pessoas em frente de seus aparelhos de TV são obrigadas a assistir todos os dias como entreterimento.
E quanta gente besta aparecendo na TV ou nos twiters e facebooks da vida, com suas teses, opinando sobre a vida dela? ZILHÕES de hipócritas com suas teorias da “verdade” para julgar e condenar. Esquecem que eles próprios vivem e alimentam esse sistema que mata mais que OVERDOSE. Esquecem que o próprio sistema é uma overdose de guerras, racismo, fome, depressão, melancolia.
Diria Nelson Rodrigues: “Morrer é fácil, viver é que são elas.”
E quem consegue viver sadio nessas condições desgraçadas que o capitalismo nos impõe? Sim o capitalismo faz mal a saúde. No caso de Amy, não foi a probreza ou a fome que a matou. O que a matou foi a exposição de suas dores, a cobrança moral, de que ela tinha de ser uma mocinha boa, mostrar resultados mercadológicos em sua arte, não dar mal exemplo etc. Claro, ela não conseguia ser isso tudo que impuseram sobre seus ombros. Tanta pressão, de todos os lados. E quem pode dizer que ela não tentou buscar um momento tranquilo de viver sem angústia? Não conseguindo, veio o recurso do álcool e das drogas.
E junto com isso, com tantas lutas, a pessoa ainda ter uma tendência, ter um desequilíbrio químico, uma condição mental. Não é simplesmente julgar e virar as costas dizendo: “Era uma louca! Procurou isso. Bem feito, não passava de uma louca, drogada e alcólotra" . Tem gente que culpa a vítima dizendo: “Ela tinha um impulso destrutivo”. Caramba, mas todo mundo tem! Lógico, algumas tem mais que as outras e aí é doença. Não faz parte do projeto natural do ser humano nascer e autodestruir-se, faz? Talvez Amy tivesse uma condição que a levava a isso. Um bug, uma falha, uma doença.
Em Amy era tudo tão visível, o talento, a doença. Na mesma proporção, imensos, gigantescos. E uma vida tão breve, com tanto sofrimento.
Não escolhemos o que somos. Nem os talentos, nem as fraquezas e doenças. E como esse mundo está de pernas pro ar, agente acaba crescendo e adquirindo tanta coisa ruim. A gente tem que aprender a lidar, a controlar, tratar. Mas não é fácil assim. Se tudo fosse tão simples, só questão de consciência e opção...aahhh.
Sabe quando você decide que vai fazer uma coisa e não CONSEGUE seguir aquilo que você mesmo decidiu? Quer levantar e sente preguiça? É só questão de força de vontade? Claro que não. E mesmo a falta de força de vontade não É CULPA da pessoa.
Todos nós temos problemas, questões, condições, tanto faz o termo. Precisamos de ajuda e tratamento quando estamos doentes. Precisamos de respeito sempre. E o primeiro passo pra respeitar o problema do outro é reconhecer o nosso. Bom, tem que ser muito bem resolvido pra admitir sua verdade.

De Amy fica entre nós
sua arte, talento, timbre e canção
que era grito de socorro e vontade de sentir vida pulsando.
Fica entre nós sua poesia do cotidiano em suas lutas pessoais.


E buscando dessa fonte, lugar de imensa sensibilidade e autenticidade de Amy,
eis um verso da canção It's My Party.
"Se isso acontecesse com você
você também choraria
essa é a minha festa e choro se eu quiser"
(Herb Wiener, Wally Gold e John Gluck)